DIZIMOS E OFERATS



Dízimos e ofertas

por Julio César
http://twitter.com/julionocaminho
Psicólogo e mestrando em Ciências da Religião

Tenho observado dois efeitos corrosivos à alma provocados pela mercadização da fé, pela monetarização do dízimo, produzidas por clérigos evangélicos, seus asseclas e associados, e vendidas nas suas igrejas.

O primeiro é a projeção da imagem de Mamon, o deus do dinheiro, em Deus. Deus passa a ser percebido como se fosse um banqueiro ou a “mão invisível” do mercado que abençoa ou remunera de acordo com os investimentos que são feitos pelos clientes nas igrejas, que passam a ser percebidas como agências bancárias e pregões das bolsas de valores celestiais. Os dízimos e as ofertas passam a ser concebidos como moedas de troca, ou melhor, como instrumentos de barganha, como se a vontade de Deus tivesse um valor venal, oscilasse conforme a oferta ou a fuga de capitais (leia-se dízimos e ofertas).

A lógica que subjaz essa operação é que quanto maior é o investimento maior é o retorno. Ou seja, se você mudar da COHAB da Barreira Grande, para um sobrado na Aclimação, para um apartamento com dois dormitórios e uma suíte no Tatuapé ou para uma cobertura no Alto da Boa Vista; se você vai deixar de andar de ônibus ou de carona, para andar de Uno Mille, de CrossFox ou de BMW; se você vai deixar de passar as férias numa quitinete emprestada na Praia Grande, para passar em Ubatuba, Porto de Galinhas ou em Bariloche, é tudo uma questão de quanto você vai ofertar. Só o dízimo é muito pouco para reivindicar um alto padrão de vida.

O indivíduo que se relaciona com Deus segundo essa lógica tende a se amesquinhar, a pensar que Deus tem que ser a “baba de seus desejos” porque afinal ele está pagando e caro para isso. Ele tende a achar que Deus é seu empresário, que vai projetá-lo no mundo da fama e do sucesso, e quando as coisas não acontecem conforme às suas expectativas, logo passa a desconfiar do caráter de Deus, da sua idoneidade em honrar os seus investimentos.

O segundo é a indiferença frequentemente transmutada em cinismo naqueles que outrora movidos por medo, boa-fé ou por ambições materiais, eram fiéis contribuintes, ofertavam com liberalidade, doavam bens valiosos para o sistema religioso. Mas depois que se desencantaram com o sistema, que sua consciência foi desalienada da falácia dos mercadores da fé – muitas vezes através de quedas violentas na realidade dos fatos, marcada de surtos, roubos e/ou arrombos pastorais – cerram o coração, dessensibilizam a alma e fecham as torneiras monetárias. E o que é pior, muita gente passa a agir assim baseado numa suposta compreensão verdadeira do Espírito do Evangelho. Em nome da graça passam a des-graçar o Evangelho.

Ambos os efeitos são decorrências de um problema estrutural congênito ou adquirido, a má formação na consciência da compreensão do espírito do Evangelho. O Evangelho nos ensina de cabo a rabo através de Jesus e dos seus apóstolos que a contribuição é um mandamento que é ao mesmo tempo um privilégio, que acarreta bênçãos pessoais e coletivas quando é feita por amor a Jesus Cristo.

Não se trata que Deus nos amara mais se contribuirmos bastante, nos amará menos se contribuirmos pouco ou deixará de nos amar se não contribuirmos com nada. O amor de Deus é invariável, nada fará com que Ele nos ame mais ou nos ame menos.

O fato de sermos fiéis contribuintes não impedirá que fiquemos desempregados, que nossa casa seja assaltada, que nosso carro bata, que contraiamos uma doença grave ou que uma pessoa que amamos vá embora ou mora. Tampouco os que não contribuem ou contribuem irregularmente ficam impedidos de serem promovidos no emprego, de sair do aluguel para uma casa própria, de trocarem o seu carro popular por um importado, de ter sorte no amor e uma vida saudável. Nem sofreram os males descritos necessariamente como castigo divino por não ofertarem. Deus faz o sol nascer e a chuva cair sobre justos e injustos. (Mateus 5.45)

O mandamento reside que ao sermos sal da terra e luz do mundo nós horizontalizamos o amor de Deus, e mostramos com as nossas boas obras a autenticidade de nossa Fé (Tiago 2.18). E benção está no aumento da percepção do cuidado de Deus por nós conforme ofertamos, seja em dinheiro ou em serviço, por amor, não por medo ou ambição, não apenas no sustento dos que ministram o Evangelho e nas instituições facilitadoras da sua ministração, mas também na assistência aos pobres, aos enfermos, aos órfãos, aos encarcerados e a todos que sofrem.

Ao ofertamos no amor de Jesus temos a bênção de sermos libertos do poder do dinheiro, da maldição que sua fartura ou escassez provoca em nossas vidas quando ele se torna um deus. Isto porque ao contribuirmos demonstramos que confiamos que a providência Divina é infinitamente mais sábia para nos fazer prosperar – segundo o Evangelho que é Vida, não segundo o mercado que é morte - do que nossa capacidade administrativa, do que nossos conhecimentos de gestão de recursos.

Quem entende isso sabe que o que Paulo que dizer quando diz que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância ceifará (2º Coríntios 9.6), não é que a economia divina é equivalente à economia de mercado. E sim, que quanto mais contribuímos mais nos desapegamos de matéria, mais nos conscientizamos da “desimportância” de tantas coisas que a gente considerava imprescindível para ser feliz, mais mudamos nossa escala de valores, e mais nos abrimos para um caminho sobremodo excelente, para uma nova dimensão, uma dimensão de Vida.

Quem duvida, provai e vede!

2 comentários:

zirmão disse...

Falou e falou, mas ficou em cima do muro. Devo dar o dizimo ou não??? Devo ofertar ou não??? Essa é a pergunta de hoje e sempre. Se devo, onde deve dar??? Com qual sentimento??? Sobre isso q devemos descutir.

O dinheiro esta ligado diretamente com a fé, no ato de dar. E o valor q ele tem como oferta, esta ligado diretamente a qto custa para se ganha-lo. Por isso a viuva pobre deu mais q todos. Por isso o salmista disse q nao daria o q o nao lhe custe-se nada.

A idéia é se dividir sempre. Não só o dinheiro, mas tempo, amor, e tudo mais q possa ser compartilhado com o proximo.

Mas o dedo na ferida é a obrigação de dar de Malaquias 3:10 q todos usam e nao o dar com alegria da nova aliança. O medo do tal "DEVORADOR" q vai visitar sua conta e seus negocios, fazem o terror silencioso ser cultivado no coração de nossas crianças na fé.

Jesus disse para dar a Cesar o q é de Cesar, não questinou o tributo ou a lei q obrigava a dar. Muito menos o q fariam com aquele dinheiro.

Quero falar sobre a obrigação de dar, sobre o sentido da oferta, sobre prosperidade cristã, sobre dinheiro e fé.

Vamos falar e discutir sobre isso???
Vamos criar aqui um forum para debatar, mesmo q informalmente, todas nossas dúvidas e medos, vamos???
Vamos nos suprieender um com o outro, no intuito de nos aprofundar nesse assunto tão polêmico e precioso para todos nós, vamos???

voltando aos princípios
zirmão@gmail.com

Gilê disse...

E aí pessoal da graça,aq é o Gil seu amigo de quase sempre(devido a minhas poucas idas às reuniões do Caminho,né.Hé,hé!!).Falando sério, meu maninho Julio elucidou e ilustrou bem questã! de contribuições, espero vê-lo em breve pra gente trocá uma idéia.
E o camaradinha Rogelio beeeem objetivo,num assunto pertinente sempre.Aliás,obrigado Brega por incuir no seu email à mim uma conta pra oferta(estranho isso não,pois é...),pois,tenho ido pouco ao Caminho na Vl.Mariana e acabo ñ contribuindo.Num võ nem me pronunciar a respeito de "Dízimos e ofertas" redundar em redundâncias,os textos já postados são esclarecedores.Só peço ao Papai do céu q nos mantenha sóbrios e sábios e unidos no espírito "Consolando-nos uns aos outros..." e "conhecendo e prosseguindo em conhecer-te".